LET IT SHINE

                                         

Memórias


Nada andou após sua partida. O que era canção virou letras sem melodia. O que era certeza passou ser escuridão. Logo eu, que jurei não o sentir, prometi não depender do amor de ninguém. Pobre alma ingênua! Mal sabia que o amor não se deseja e que dependência não surge de uma forma intencional.
Você me deixou em um abismo, jurou vir me buscar um dia, mas não veio. Estou aqui, imóvel, sem olhar para os lados, sem enxergar outro alguém, sem tentar recomeçar.
Não, meu querido, não é comodismo; não estou bem nesse lugar frio, escuro e vazio. Sinto dor, a alma enruga junto com a minha face estática.
Não choro mais. Não tenho forças para molhar o seu nome com as minhas lágrimas- com razão, pois ouvi dizer que você não as sente mais. Não sente falta e não lembra mais das nossas juras.
Ouço vozes me chamarem. Escuto pessoas implorando pela minha volta à existência. Não voltarei, ficarei aqui agonizando de amor.
Talvez a culpada seja eu, esqueci de mim, e resolvi viver do que não posso mais tocar: memórias.

Sabrina Teles, 12/11/2010

Aflição


De olhos abertos graças ao efeito da cafeína. O coração pulsando por ser um movimento involuntário. A respiração está controlada, mas os olhos não conseguem esconder o sentimento de angústia que se sente.
Não há quem culpar, não dessa vez. É um dia normal, mas que com a nuvem negra que parou sobre mim, tornou-se um inferno.
Nada é capaz de prender minha atenção. Meu eu triste e confuso é minha prioridade. O meu maior desejo é sofrer essa dor sem fundamento em um lugar escuro e com a ausência de movimeto, som, opiniões, ausência de julgamento.
Não quero saber o que eles pensam sobre a minha angústia, não preciso da aprovação de ninguém para ser infeliz.
Quando se está feliz todos querem saber o motivo da sua felicidade. Na verdade eles querem sugar um pouco dela. Querem ter mais motivo para se sentir bem. Mas quando se está mal é mais cómodo não saber o porquê. Passar, olhar e partir, ninguém quer beber do cálice da angústia.
Agora bebo dessa tristeza em meio a multidão. O poço está um pouco mais em cima. Ninguém percebe que fico nele, pois não me ausento desse mundo. Não é necessário sumir para estar distante de todos.

Sabrina Teles, 28/11/2010

Mistério fatal

Eles insistem em criar remédios para tudo. Há desde aqueles mais simples, para dor de cabeça, azias, cólicas, até os mais complexos, para cânceres, hepatites e outras doenças pesadas. E para o mistério fatal? Eles não encontraram. Poderia colocar entre o substantivo, eles e o advérbio, não, outro advérbio, ainda. Mas não estão para descobrir, as chances são mínimas e forças maiores comandam. Quando as condições são essas, eles não costumam se atreverem a tentar desvendar mistérios.
Pouco me importa a receita do antídoto. Muitos já foram, e nesse momento um contraveneno não adiantaria nada. Quero mesmo entender o porquê dessa partida sem adeus, o porquê de um fim no começo de muitas histórias. Os mais sábios que conheço, nada me respondem, eles se perdem em meio a tantas teorias e práticas. Eu, uma mera adolescente, perco noites de sonos e dias de lazer tentando entender o que acontece após esse fim; ao mesmo tempo peço conforto para não enlouquecer com tanto mistério.
O problema não são as lágrimas, pois há água suficiente no mundo para hidratar o corpo e abastecê-las. A dor está na ausência, na rotina, nos costumes, nos afetos, no contato físico- que após o desfecho se faz impossivelmente impossível (a gramática que me perdoe, mas cabe aqui esse pleonasmo).
Neste momento uso as palavras como desabafo. O desejo real é reverter um passado evitável, é suavizar a dor de um coração magoado e com pedaços que foram levados pelo mistério fatal. Desculpem, mas não há fundamentações teóricas, pesquisas, nem nada do gênero. Escrevo porque os pensamentos não cabem dentro da caixola, sou entendida, mas não compreendida. Por isso jogo opiniões e dizeres aqui; onde posso “surrealizar” e viver um pouco daqueles que partiram.
Sabrina Teles, 15/12/2010