LET IT SHINE

                                         

Tempo

O tempo passa. Simplesmente ele passa. Vai-se, discorre, apressa-se e não nos diz adeus. Não tem vontade própria. É inerente ao partir. Não se apega, não raciocina, contudo, deixa o seu rastro por onde passa. Nada é intencional, proposital. Ele, realmente, é incapaz de controlar os impactos que causa com sua chegada e partida.

Sente-se mal, manipulador e contraditório. Não entende como pode fazer tanto mal e bem simultaneamente, pois consigo traz rugas, mortes, mudanças, esquecimentos, e em contrapartida carrega juventudes, vidas, permanências, lembranças.

Certa vez, tentou matar-se, mas foi inútil, a imortalidade estava dentro de cada parte que o compunha. Olhou para trás, para frente, viu um grande caminho percorrido e um infinito para cursar. Aceitou-se exatamente como é: incompreensível, indecifrável e incoerente. Percebeu que todos seus caracteres, repletos de negatividade, eram ambíguos e deixavam espaço para tornarem-se positivos, pois era apenas uma questão de prefixo, e essa mudança era tarefa para quem o encontrasse.

Seguindo sua estrada, encontrou uma moça, essa o compreendeu inteiramente e viveu bem enquanto ele esteve por perto. Mas como sempre, o tempo teve que partir. Ela implorou pela sua permanência, porém, ele se foi e levou consigo toda a felicidade momentânea.

Mortal ser humano, não adianta insistir. Por mais que você o queira, ele não ficará. Não é frieza: a partida e a chegada é o que mantem a sua função.

Sabrina Teles ; 28/04/2011

Máscara

Estavam despidos. Diante dos meus olhos não havia segredos, mistérios, nem incógnitas. Éramos somente nós, a brisa do mar e um sol que se punha.
O olhar era firme, parecia real e sincero. As palavras eram poucas, mas as pronunciadas eram doces e singelas. Pela primeira vez, resolvi não reter-me e entregar-me ao momento, não a você.
Aproveitei imensamente cada fração de segundos, embebedei-me com sua sede de amor e mostrei um mundo novo para você. Oh, quão foi ingênuo! Olhava-me como se eu soubesse de tudo, e era incapaz de perceber que tudo era também tão inédito para mim...
Logo depois a brisa parou e a noite chegou seca e escura, não havia estrelas, lua; as nuvens cobriam qualquer vestígio de luz. Olhei para o lado, e você não estava mais ali. Meu coração não acelerou, manteve o ritmo, eu sabia o caminho de volta e a sua ausência, na prática, contrariou a teoria, e não fez diferença alguma.
Os dias após aquele seguiram tranquilamente bem, sem lembranças dolorosas, saudades e lágrimas. Era compreensível a inexistência de sentimentos, pois jamais foi parte da minha rotina anseios pelo irreal. Se entregar apenas aos momentos ajuda-nos a não lastimar, e lembrar deles em primeiro plano, as pessoas acabam ficando para o último.
Mascarado, camuflado, irregular. Pensei que máscaras fossem usadas apenas no carnaval. Mas vejo o quão equivocada estou. As pessoas as usam diariamente, e muitas são imperceptíveis.
Sabrina Teles; 03/04/2011